Tem gente que vive de malas prontas. Estão sempre à espera de algo que as façam partir.
Eu não. Gosto mesmo é de arrumar minha mala dia pós dia. É que tô sempre em conflito sobre o que levar e o que deixar. Uma vez levei tão pouco de mim que coube numa mochila pequena. Pensei que seria mais fácil de carregar.
Senti tanta falta do que julguei desnecessário...
Hoje só faço as malas cautelosamente. Aprendi a me preparar pros dias que sou Sol e praqueles que sou Chuva.
Carla Abreu
Há uma janela, entre minha cidade e a dela, por onde conversam asas. abro, espio e as vejo em brasas no balanço mineiro do sino; também Tilim tino também Tilim tino também Tilim tino e passo em desatino ao outro lado: - mas logo no coração, Cupido Afobado?! logo no coração?!
segunda-feira, 22 de março de 2010
sábado, 13 de março de 2010
Primeira vez
Quando minha tia soube que o filho havia morrido foi uma gritaria só. Eu não entendia bem aquilo de morte. Nunca ninguém havia morrido pra mim. E dessa vez não foi diferente, pois eu não o conhecia. Morava numa clínica em Petrópolis, era deficiente.
Porém, isso não impedia que ela gritasse. Eram gritos seguidos de gemidos tão doídos que tive medo da tal morte.
A mãe ficou em casa pra nos arrumar pro enterro. Quando entrei no quarto, ouvi:
_ Ponha uma roupa de cor triste. Nada de cor arregalada, principalmente vermelho. Nem sabia qual cor era triste, mas coloquei uma blusa marron. Acho marron feio e escolhi por isso.
Lá no velório ficava todo mundo de borburinho. Fui ver minha tia. Ela estava perto do caixão. Senti um aperto, doía ver a dor dela ali. Deu vontade de ensinar pra ela como engolir o choro. Minha mãe dizia que era feio chorar alto e perto dos outros.
Meu pai estava sentado do lado de fora. Falei pra ele trocar de blusa. Azul era alegre e não podia. Ele riu e falou que teriam que trocar o caixão, era roxo. Eu nem tinha notado. Roxo era tão arregalado. Nunca mais me esqueci daquele caixão e nem vi outro igual.
Depois do enterro, a casa ficou vazia. A tia sozinha. Cheguei pertinho e fiquei olhando pra ela. O canto dos olhinhos dela molhados. Me deu vontade de chorar, ela sim parecia morta e doeu tanto em mim que chorei.
Só entendi mais tarde que tem gente que morre e fica vivo.
Porém, isso não impedia que ela gritasse. Eram gritos seguidos de gemidos tão doídos que tive medo da tal morte.
A mãe ficou em casa pra nos arrumar pro enterro. Quando entrei no quarto, ouvi:
_ Ponha uma roupa de cor triste. Nada de cor arregalada, principalmente vermelho. Nem sabia qual cor era triste, mas coloquei uma blusa marron. Acho marron feio e escolhi por isso.
Lá no velório ficava todo mundo de borburinho. Fui ver minha tia. Ela estava perto do caixão. Senti um aperto, doía ver a dor dela ali. Deu vontade de ensinar pra ela como engolir o choro. Minha mãe dizia que era feio chorar alto e perto dos outros.
Meu pai estava sentado do lado de fora. Falei pra ele trocar de blusa. Azul era alegre e não podia. Ele riu e falou que teriam que trocar o caixão, era roxo. Eu nem tinha notado. Roxo era tão arregalado. Nunca mais me esqueci daquele caixão e nem vi outro igual.
Depois do enterro, a casa ficou vazia. A tia sozinha. Cheguei pertinho e fiquei olhando pra ela. O canto dos olhinhos dela molhados. Me deu vontade de chorar, ela sim parecia morta e doeu tanto em mim que chorei.
Só entendi mais tarde que tem gente que morre e fica vivo.
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