sábado, 13 de março de 2010

Primeira vez

Quando minha tia soube que o filho havia morrido foi uma gritaria só. Eu não entendia bem aquilo de morte. Nunca ninguém havia morrido pra mim. E dessa vez não foi diferente, pois eu não o conhecia. Morava numa clínica em Petrópolis, era deficiente.

Porém, isso não impedia que ela gritasse. Eram gritos seguidos de gemidos tão doídos que tive medo da tal morte.

A mãe ficou em casa pra nos arrumar pro enterro. Quando entrei no quarto, ouvi:

_ Ponha uma roupa de cor triste. Nada de cor arregalada, principalmente vermelho. Nem sabia qual cor era triste, mas coloquei uma blusa marron. Acho marron feio e escolhi por isso.

Lá no velório ficava todo mundo de borburinho. Fui ver minha tia. Ela estava perto do caixão. Senti um aperto, doía ver a dor dela ali. Deu vontade de ensinar pra ela como engolir o choro. Minha mãe dizia que era feio chorar alto e perto dos outros.

Meu pai estava sentado do lado de fora. Falei pra ele trocar de blusa. Azul era alegre e não podia. Ele riu e falou que teriam que trocar o caixão, era roxo. Eu nem tinha notado. Roxo era tão arregalado. Nunca mais me esqueci daquele caixão e nem vi outro igual.

Depois do enterro, a casa ficou vazia. A tia sozinha. Cheguei pertinho e fiquei olhando pra ela. O canto dos olhinhos dela molhados. Me deu vontade de chorar, ela sim parecia morta e doeu tanto em mim que chorei.

Só entendi mais tarde que tem gente que morre e fica vivo.

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