Maria levantou tarde. Era uma das poucas vezes que teve esse luxo. Decidiu não ir trabalhar.
Da sua janela via mais janelas. Por um momento pensou em ser um pássaro, voar até as mais altas e quem sabe mais perto do céu encontrar um pouco que fosse de conforto.
Sentiu mais uma vez as fisgadas em seu ventre. Abaixou-se no canto da sala e implorou para que a dor aumentasse. Queria que aquela dor ultrapassasse a outra que rasgava o peito e a fazia delirar.
- "Quanta bobagem! "- pensava ela -.
A realidade era outra. Há dias só enxergava coisas marrons ao seu redor. As outras cores, aquelas que de em vez quando nossos olhos teimam querer ver, já não existiam mais pra ela.
Lembrou da dor... das dores...
Encolheu corpo e com a cabeça entre as pernas chorou bem forte. Não entendia porquê Deus não ouvia. Logo ela, sua Maria. Gritava, mas era vão.
Estava sozinha.
Levantou devagar, sentiu descer em forma de sangue pelas suas pernas o último gozo.
E só então, teve a certeza do fim.
em "O Beijo Interrompido" (http://pote-de-poesias.blogspot.com/2009/05/o-beijo-interrompido.html) tenho quase a mesma sensação que o seu excelente conto me transmite. Parabens e agradeço sua visita. Soaroir
ResponderExcluirObrigada, por sua visita tbm!
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