quarta-feira, 8 de julho de 2009

Com-tradições

Olha, já sei que decidiu partir. Não que eu não soubesse há tempo, mas preferi ignorar mais uma de minhas nuances. Sabe querido, odeio ser intuitiva. Sofro antes, durante e depois dos acontecimentos. Li no seu olhar que aquela seria a última vez que me tocaria. E me desculpa a expressão, mas foi literalmente foda.

(...)

É estranho pensar que transar quando se está despedindo é quase melhor do que o sempre. Acho que inverteram os termos. Sonhava com a tal primeira vez e na verdade, cá entre nós, foi péssima. Preferi a última vez. De agora em diante, toda vez que me falarem de momentos marcantes aconselharei viverem o último. E você querido, foi um bom amante. Tudo bem que a gente sempre sonha mais. Mas até que eu estava satisfeita. Não vou mentir que às vezes sozinha, pensava em algo mais picante, libidinoso. Por favor, não me interprete mal, mas é que de um tempo pra cá comecei a querer mais do meu corpo. Entende?

(...)

Porém, quero que saiba que mesmo assim eu não o deixaria. Não sei ao certo o que me prendia a você. O sexo definitivamente acho que não era. Mas sei lá, eu queria estar ao seu lado. Na verdade eu ainda quero, mas não posso mais te impedir. Pensei até em parar de fumar, sei que não gosta muito e talvez até deixasse de beber a maldita vodka e jogar baralho com aqueles amigos no buteco, mas seria enterrar o resto de mim. Bem que minha mãe disse que isso não é coisa de moça de família. Só que agora não dá mais tempo. Já estou perdida nesse meio e pra falar a verdade, não acho justo te prender em minhas desilusões e delírios noturnos.

(...)

Tudo bem quanto a me deixar. Chorarei um dia, uma semana talvez. Eu só queria que soubesse que gostava de sua companhia. Você era aquilo que eu queria ter sido, mas nasci assim meio torta, admirando homens que falam de putas e lêem Bukowski. Não que eles tenham algo assim muito admirável ( alguns estão em estado deplorável) mas, me fascinam. Deve ter sido praga da minha vó quando minha mãe engravidou solteira e fugiu com meu pai. Deve vir daí meu interesse por coisas distorcidas e homens complicados.

(...)

Imagino o quanto foi difícil pra você passar noites me esperando chegar embriagada da rua querendo que você entendesse minhas idéias malucas sobre sexo a qualquer custo. Devo me desculpar por isso, sempre pensei que o sexo de alguma forma me libertaria. Mesmo sem saber ao certo a que estou presa. Entretanto, prometo que se algum dia conseguir largo essa vida e procuro melhores companhias.

(...)

Sei que logo ali na frente, encontrarás com uma dessas menininhas que os homens sonham. Aquelas que passam horas lendo revista sobre casais. Eu infelizmente vim na época errada, jamais te daria o privilégio de sentar e falar da cor de algum vestido. Até porque prefiro ficar quase sempre sem. E você não merece tanta frieza.

(...)

Vá querido, pode ir sem culpa. Se algum dia lembrar, mande um recado dizendo que está feliz. Gosto de saber da felicidade alheia, já que a minha se encontra cada vez mais distante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário